Em 26 de março de 1816, Nicolas Antoine Taunay, filho do pintor e químico Pierre-Antoine Henry Taunay, desembarcou no Brasil junto com os artistas da chamada “Missão Artística Francesa” – liderada por Joachin Lebreton e patrocinada pelo rei Dom João VI.
Nascido em Paris no dia 10 de fevereiro de 1755, Taunay se interessou por arte já na infância. Sua forte miopia, que o levou a usar óculos com lentes excessivamente grossas por toda a vida, não o impediu de se tornar um dos mais talentosos paisagistas históricos de seu tempo. A obra
“O sol do Brasil”, da autora Lilia Schwarcz, narra a trajetória desse pouco conhecido artista francês cujo talento é inquestionável.
Lilia Moritz Schwarcz é uma autora que possui uma notável elegância narrativa. Seus textos são de um vocabulário muito rico e rebuscado, mas não ao ponto de ser verborrágico. Em alguns momentos ela parece falar consigo mesma deixando de lado um pouco da sempre perene postura opinativa dos historiadores.
Uma coisa que irrita profundamente os leitores de textos históricos e quando fica a impressão de que o autor estar entrando em um assunto do qual ele não domina completamente, pois fica superficial demais e muito mais adequado a uma revista que a um livro. Mas não é este o caso de Lilia Schwarcz.
Apesar de ser uma obra que vende um conteúdo voltado para a história do Brasil, e com um titulo de relativo apelo comercial, não se trata de um texto na mesma linha, por exemplo, que as obras de Laurentino Gomes. O texto não tem o foco concentrado nas aventuras dos artistas franceses na corte de Dom João. O foco aqui é a arte! Existem muitas passagens com analises criteriosas das obras, dos estilos e das tendências estéticas do período.
O leitor de
“O sol do Brasil” deve, no mínimo, se interessar por arte. Cuidado com as falsas expectativas criadas pelo subtítulo, pois temos aqui o caso de uma obra onde a arte é colocada em um nível superior ao artista.
O projeto gráfico da obra é primoroso. A qualidade do material é impressionante. Todas as paginas são impressas em papel Polen Soft com uma gramatura mais acentuada, a fonte do texto é boa embora o espaçamento possa desagradar alguns leitores. Muitas imagens belíssimas em preto e branco e também em cores.
A narrativa é bem cronológica começando com uma caracterização do país a partir dos boatos contados por portugueses, alemães e franceses que por aqui se aventuraram. A autora deixa bem clara, por exemplo, a influencia que a obra do alemão Hans Staden teve para o imaginário europeu. Esse é um ponto onde o texto mais incorpora a descrição histórica, mas o tom narrativo é mais contemplativo que instrutivo. O texto presume um certo conhecimento do leitor e embora seja bastante descritivo, não é o do tipo onde tudo é explicado. Na sequência a autora analisa o movimento neoclássico francês dando destaque para o seu maior ícone, o pintor Jacques Louis David, avaliando o papel da arte como ferramenta política no período napoleônico. Somente a partir daí é que o foco volta a se deslocar para o Brasil.
Lilia Schwarcz tem tudo àquilo que sua função exige: conhecimento, conteúdo e clareza conceitual, no entanto, esse excesso de gabarito é o que trás alguns problemas para o texto. Falta impulso narrativo, falta carisma na linguagem que é excessivamente formal. A narrativa é muito intermitente com muitos retrocessos que impedem que a obra seja lida com um fôlego único. Se você é um daqueles leitores que tem dificuldades de retomar um raciocínio interrompido pela intermitência descritiva esse livro certamente irá desagradá-lo.
Apesar dessa ultima ressalva a obra é de muita qualidade, muito conteúdo e muito interessante. Vale à pena dedicar tempo a este tipo de texto que foge um pouco dos padrões de preferência nacional. Se você gosta de arte certamente vai gostar de “O sol do Brasil”. Boa leitura!
AUTOR
TIAGO R. CARVALHO
Título original: O SOL DO BRASIL
Capa: Hélio de Almeida
Páginas: 464
Selo: Companhia das Letras
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