No ano de 1328 o rei da França Carlos IV, filho de Felipe IV, faleceu. Sua irmã Isabel assumiria o trono, mas Felipe de Valois, sobrinho de Felipe IV, reivindicou o trono para si através da Lei Salíca, que impedia que o trono fosse assumido pela linhagem feminina. Isabel, diante da impossibilidade de subir ao trono, nomeou seu filho, Eduado III – rei da Inglaterra – como sucessor do trono da França.
As cortes decidiram a favor de Felipe de Valois que assumiu o trono sob o titulo de Felipe VI. Eduardo III, no entanto, estava determinado a ser soberano da Inglaterra e da França. Em 1337 ele enviou suas tropas para combater Felipe VI dando inicio a chamada Guerra dos Cem Anos (1337-1453), o maior conflito europeu do período feudal.
Ao longo dos 116 anos de conflito nenhuma figura histórica se destacou tanto quanto a francesa Joana D’arc, personalidade historica que Donald Spoto resolveu retratar em sua incrível obra
“Joana D’arc uma biografia”.
Existem poucas informações sobre os primeiros anos de vida da heroína francesa, mas Spoto promove um resgate bem fiel e objetivo sobre não apenas a sua historia mas também de sua família. É um trabalho muito competente diante de tão poucas e contraditórias informações.
Não se sabe ao certo, por exemplo, se ela nasceu em 1411 ou 1412 e a própria data de seu nascimento – 6 de janeiro - foi estabelecida por razoes puramente simbólicas.
O que se sabe é que Joana era filha de um respeitado proprietário de terras do vilarejo de Domrémy. A família vivia em uma residência confortável para o período e atualmente teria o status de classe media. Aparentemente Joana não foi alfabetizada. Era uma simples camponesa de hábitos religiosos sem nada que a destaca-se dos demais moradores de Domrémy.
A narrativa de Donald Spoto está muito longe de ser cansativa ou tendenciosa. Em alguns momentos de fato fica a sensação de ele busca construir a imagem de uma heroína, mas ele naturalmente se corrige ao analisar os feitos de Joana de forma muito objetiva deixando que o leitor os interprete da forma que achara mais adequada. O problema dessa abordagem é que o texto corre o risco de parecer vago, mas diante de tantas lacunas nos registros históricos o autor se saiu muito bem ao deixar de lado a pretensão de construir uma biografia definitiva.
Um ponto abordado a exaustão no texto é sobre as misteriosas vozes que Joana alegava ouvir. Segundo o depoimento da própria Joana, durante o seu julgamento, foi durante um dia do verão de 1424, por volta do meio dia, que ela ouviu pela primeira vez uma dessas vozes enquanto caminhava pelo jardim de sua casa. As vozes se seguiram de luz muito forte em meio à vegetação. Spoto confronta essa alegação a partir de dois pontos de vista: dos que acreditam se tratar de um fenômeno sobrenatural e dos que os que tentam explicá-los através da ciência.
O comportamento de Joana por muito tempo foi interpretado como uma manifestação de sua natureza supostamente lesbica. Esse absurdo é desconstruído aqui através da exposição de uma jovem pratica e sensata que se vestia como homem simplesmente para que fosse vista como um. Dessa forma ela se protegia de eventuais abusos sexuais, pois naquela época as únicas mulheres que acompanhavam os cavaleiros eram as prostitutas.
Não é uma obra com olhar direcionado ao plano mais violento de sua historia e sim focada no elemento humano. Quem espera um texto com descrições violentas de batalhas pode achar a narrativa de Spoto meio “água com açúcar”. A Joana
mulher têm mais espaço aqui do que a Joana
guerreira. As batalhas aparecem mais como elementos de preenchimento sem muita relevância para o propósito do texto.
O único momento em que a narrativa se aventura numa linguagem mais belicista e durante a descrição da batalha de Orléans na qual Joana foi atingida por uma flecha que atravessou sua armadura entre o ombro e o pescoço.
A segunda metade da obra se dedica inteiramente as descrições do julgamento de Joana, com muitos trechos dos registros feitos na ocasião. É talvez o momento que mais aproxima o leitor da verdadeira historia dessa icônica figura da historia da França que por muito tempo foi cercada de mitos e lendas.
A obra de Spoto é uma biografia excelente e reveladora que se inicia com a história de uma simples família de camponeses do vilarejo de Domrémy e termina com uma jovem, de 19 anos, acusada de heresia pela igreja católica, ardendo em meio às chamas na trágica manhã de 30 de maio de 1431, uma quarta-feira.
AUTOR
TIAGO R. CARVALHO
JOANA D'ARC - UMA BIOGRAFIA
Autor: SPOTO, DONALD
Editora: PLANETA DO BRASIL
Nº de Páginas: 304
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