sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A ERA VITORIANA: LITERATURA


Mas nem só de números e progressos se fez a era vitoriana. Em muitos casos a característica mais marcante do período foi justamente a falta de mobilidade na medida da pura e simples estagnação. Na literatura, por exemplo, é possível extrair certas singularidades do período, como a rígida estrutura da constituição familiar. Não surpreende o fato de que na orbita do capitalismo britânico o casamento tenha aos poucos assumido o contorno de mercadoria.
A valorização burguesa do conceito de lar, ou seja, da união indissolúvel de seus integrantes no ambiente domestico, teve um amparo discreto na pratica de leitura familiar. Nesse contexto o livro, como objeto, contribuiu diretamente para a conservação do estilo de vida burguês, que acabaria por se consolidar como um estilo de criação literária. Os textos eram criados para serem lidos durante a noite, momento em que todos os integrantes da família estavam reunidos. Alguns eram recheados de temas obscuros cujas historias de fantasmas certamente teriam mais impacto durante a leitura noturna.
Jane Austen (1775-1817) produziu um quadro vivo da importância do casamento em sua obra “Orgulho e Preconceito”. Embora o livro tenha sido publicado em 1813, período anterior a era vitoriana, o mesmo já retratava os valores da sociedade surgida a posteriori e cujos valores permaneceram praticamente inalterados. Emily Bronte (1818-1848) também é uma das principais representantes de sua época, ao lado de nomes como Oscar Wilde (1854-1900) e Charles Dickens (1812-1870), Lewis Carrol (1832-1898), Robert Louis Stevenson (1850-1894), Arthur Conan Doyle (1859-1930) e Alfred Tennyson (1809–1892). Na poesia Tennyson foi um dos maiores destaques. No trecho final de seus mais belos poemas – Ulisses – o autor apresenta um belo quadro de determinação e coragem:
Ainda que muito esteja perdido, muito nos resta; e ainda que perdida a força dos velhos dias que movia céus e terras; somos o que somos; uma coragem única nos corações heróicos, débeis pelo tempo e pelo destino, mas persistentes em lutar, achar, buscar, jamais render.
Lewis Carrol – nascido Charles Lutwidge Dodgson – se tornou mundialmente famoso com a obra “Alice no país das maravilhas”, que teria criado depois de uma viajem de barco pelo Tamisa na companhia de uma menina de 10 anos chamada Alice Liddell. A vida particular de Carrol, e seu gosto, no mínimo exótico, de fotografar crianças parcialmente nuas, contribuíram para aumentar os enigmas associados a suas obras. Pelos padrões Freudianos a cena inicial de “Alice no país das maravilhas”, onde um coelho a guia para o interior de uma toca escura e estreita, que terminada num mundo de fantasia, possui uma gritante conotação sexual, tanto pelo coelho – animal que no período era associado ao sexo – quanto pela toca “escura e estreita”.
Existe uma tendência de se aplicar padrões Freudianos a todas as épocas, o que não me parece correto, mas que de forma curiosa acaba por expor certas particularidades notáveis. No caso de Lewis Carrol o padrão Freudiano parece não só perfeitamente aplicável como igualmente revelador. Não chega a ser surpreendente que textos com conteúdo homoerótico, como no caso de “O retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde, tenham sido alvo de criticas ferozes em uma época tão moralista quanto a vitoriana.
Uma das primeiras vozes literárias a se elevar por sobre a miséria das grandes cidades industriais foi Elizabeth Gaskell, autora do romance “Mary Barton” cujo enredo era direcionado aos trabalhadores das industrias têxteis de Manchester. Nascida Elizabeth Stevenson, e conhecida popularmente com Mrs. Gazkell, se tornaria uma das maiores contistas da era vitoriana, ao lado de Charles Dickens. O romance “Mary Barton” impressionou a sociedade britânica ao retratar o mundo fétido das fabricas com seus operários esqueléticos e famintos.
Charles John Huffam Dickens, nasceu em 7 de fevereiro de 1812 na cidade de Portsmouth, e logo na infância sentiu os efeitos da Revolução Industrial. Seu pai, chamado John, era um funcionário da marinha que vivia endividado. Em 1822 a família decide se mudar para Londres na esperança de melhorar de vida. Dois anos depois John Dickens vai para a cadeia por dividas. Elisabeth Dickens, sozinha a própria sorte com o filho resolve vender os pertences da família; o jovem Dickens, apaixonado por leitura desde cedo, viu seus livros serem vendidos para saldar as dividas. Em 1824 ele consegue emprego em uma fabrica de graxa como colador de rótulos. Anos mais tarde ele se recordaria de sua ocupação na fabrica como um dos momentos mais dramáticos de sua vida. Três anos depois ele se torna escrevente de um escritório de advocacia e em 1832, após aprender sozinho a taquigrafia, consegue emprego como repórter parlamentar.
Em 1836 Dickens se casar com Catherine Hogarth, filha do editor do Evening Chronicle. Naquele mesmo ano ele finalmente pública seu primeiro livro: “Retratos Londrinos”“Sketches by Boz” (O nome era devido ao costume de Dickens em assinar seus textos com o pseudônimo “Boz”). A obra teve sucesso imediato e abriu as portas para Dickens emergir como um dos maiores escritores da era vitoriana.
Apesar do sucesso estrondoso de “Grandes Esperanças” sua obra mais marcante foi “Um Conto de Natal”. A história do rabugento Ebenezer Scrooge, um funcionário de escritório que passou a odiar o Natal depois que seu sócio, chamado Jacob Marley, morreu em uma noite de 25 de dezembro, encantou a sociedade da época e se consolidou como o mais famoso conto natalino da historia. Dickens sempre fora apaixonado pelo clima natalino. Uma das mais belas passagens de sua obra “Retratos Londrinos” ele escreveu:
“Não viva no passado. Não lembre que apenas há um ano a criança que hoje já se foi estava sentada diante de você, com as bochechas rosadas e a alegre inconsciência da infância brilhando nos olhos. Pense nas bênçãos presentes – aquelas que todos os homens têm -, não nas desgraças passadas, que todos os homens possuem em algum momento da vida. Encha novamente o cálice, com um rosto feliz e o coração contente. Nossa vida depende disso (...)”
Em 1780, Luige Galvani, que na época era professor de anatomia, descobriu o efeito da eletricidade sobre os músculos. Inicialmente ele havia testado em sapos mortos e constatou a contração dos membros diante de uma descarga elétrica. Seu neto, chamado Giovani Aldini, percorreu a Europa divulgando as descobertas do avô. Em 1803 ele realizou uma de suas mais bizarras apresentações: diante de uma platéia de espectadores Giovani utilizou o cadáver de um homem que havia acabado de ser executado na forca. O cadáver, deitado em uma mesa, teve dois eletrodos ligados a dois pontos distinto, onde foi aplicada uma carga de 120 volts.
A descarga no rosto gerou movimentos convulsivos na face; em dado momento o olho esquerdo chegou a abrir. Mas o clímax aconteceu quando um dos eletrodos foi colocado na boca e o outro no reto. Ao acionar o disjuntor a contração muscular no cadáver foi tão intensa que o mesmo chegou a se sentar sobre a mesa, causando pânico entre os expectadores. Entre os que assistiam a apresentação estava uma jovem chamada Mary Shelley (1797-1851), que devido a esse espetáculo inusitado encontrou inspiração para escrever sua obra mais famosa: “Frankenstein”
AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO

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