“A morte é um problema dos vivos.”. - Norbert Elias“Alemanha, 1945” do autor Richard Bessel trás a tona, de forma muito competente, os dramas políticos e humanos de uma Alemanha arrasada pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A pergunta que se faz é se esta obra é relevante para quem já possuiu um largo conhecimento sobre a Segunda Guerra Mundial? A resposta é sim! Não se trata apenas mais uma obra sobre o tema e sim de um texto de aspecto singular quanto ao que ele se propõe fazer. Existem muitas informações interessantes aqui, a abordagem do autor é bem objetiva, clara sem recorrer a uma dramatização desnecessária ou piegas. Bessel parece compreender bem que o leitor de seu texto já possui uma familiaridade com o terrível contexto do conflito, ou seja, é um leitor que já absorveu a essência desumana do nazismo e também os desdobramentos brutais que o mesmo provocou. Não esperem encontrar aqui uma abordagem sentimental e este talvez seja o grande mérito de Richard Bessel, pois ele conseguiu criar um texto onde o elemento humano é predominante porem o foco é mais político, geográfico e sociológico. Há uma oscilação constante entre as decisões tomadas em nível de governo e as conseqüências dessas decisões na vida do cidadão alemão comum. Bessel explora a individualidade apenas para mostrar o quanto o elemento humano é afetado por medidas completamente alheias a sua realidade. O foco do texto são os meses imediatamente posteriores a rendição da Alemanha, mas a obra só entra nesse seguimento após um resumo dos últimos meses de combate, onde o pano de fundo é a defesa desesperada do território alemão. O sangrento mês de janeiro de 1945, o mais sinistro da historia da wermarcht quando 450 mil soldados alemães foram mortos, abre a seqüência de eventos narrativos que expõem o desabamento final do III reich. O ponto forte desta obra impressionante é a abordagem do autor sobre os movimentos migratórios ocasionados pela fuga da população civil alemã das regiões onde os combates eram mais intensos. Aqui ele não se priva de absolutamente nada para compor seu quadro narrativo. Verdadeiras tragédias e desastres são apresentados sempre com o amparo de dados estatísticos. Números é algo que Richard Bessel usa e abusa em seu texto e é justamente esse recurso que expõe ao leitor a magnitude do conflito. O campo de batalha urbano é explorado de forma tridimensional: a perda de referencia geográfica provocada pela destruição das ruas e construções, as conseqüências geradas pelo desaparecimento do Estado policial nazista, a forma como esses eventos foram assimilados por pessoas de diferentes faixas de idade, a desintegração da unidade familiar diante da realidade apocalíptica do pós guerra que naturalmente legitimava o abando da conduta moral e a satisfação imediata das necessidades mais primitivas. Na segunda parte do texto o foco é a administração das potencias aliadas em suas respectivas zonas de ocupação, é e nesse ponto que “Alemanha 1945” emerge como uma obra ímpar e que talvez se compare, em mérito, apenas ao impressionante “Pós Guerra” de Tony Judt. Os dados referentes aos números de prisões efetuadas nas zonas de ocupação americana, soviética, francesa e britânica vão surpreender aqueles mais acostumados a aceitar a idéia de que a zona soviética foi a mais brutal em termos humanos. O que mais impressiona, no entanto, são os dilemas enfrentados pelos aliados para alimentar a população alemã. A escassez de alimentos provocada, por exemplo, pela migração das zonas rurais é tão bem narrada pelo autor que causa um impacto muito mais significativo no leitor do que os combates propriamente ditos. Isso deu vazão a tendência alemã de se definirem, nos anos do pós guerra, como vitimas ignorando o sofrimento que o nazismo levou a tantos países ao longo do regime de Adolf Hitler. “Alemanha 1945” é uma obra de leitura obrigatória, atual e nada genérica. Vale muito à pena! AUTOR TIAGO R. CARVALHO Título original: GERMANY 1945 Tradução: Berilo Vargas Páginas: 504 Peso: 0.763 kg Acabamento: Brochura Selo: Companhia das Letras Documentário que serve como complemento da obra:
domingo, 12 de fevereiro de 2017
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