sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
JOANA D’ARC - UMA BIOGRAFIA
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
O SOL DO BRASIL
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
O ÚLTIMO DIA DO MUNDO: 1 DE NOVEMBRO DE 1755
“Que jogo de azar é a vida humana! (...) Isso deveria ensinar os homens a não perseguir outros homens; porque enquanto alguns santarrões embusteiros queimam alguns fanáticos, a terra se abre e engole a todos igualmente.”
- Voltaire (24 de novembro de 1755).No dia 1 de novembro de 1755, dia de todos os santos, a ensolarada Lisboa foi sacudida por três tremores de terra. O primeiro fez os sinos das igrejas tocarem, despedaçou vitrais e colunas de mármore. Quarteirões inteiros desabaram soterrando centenas de pessoas: Era o inicio do maior desastre natural do século XVIII. Por volta das nove e meia da manhã veio o segundo tremor, ainda mais forte que o primeiro. Este lançou ao chão até mesmo as construções mais robustas. O terceiro tremor ocorreria poucos minutos depois. Lisboa já era uma pilha de escombros nesse momento e começava a circular a ideia de um possível castigo divino. Um enorme incêndio, provocado pelas centenas de velas acessas naquele tradicional dia de orações, engoliu as ruínas da cidade. A brisa marinha ajudou a amenizar a propagação do fogo, mas o que parecia um sopro divino se converteu numa cruel realidade. Um forte vento começou a soprar de forma repentina da direção do mar. Uma serie de ondas enormes atingiram a parte baixa de Lisboa por volta das 11h da manha. Em apenas cinco minutos essas ondas destruíram tudo que encontraram pelo caminho. Lisboa estava completamente arrasada e dos seus escombros surgiria um intenso debate sobre Deus, o homem e a ciência. “O último dia do mundo. Fúria, ruína e razão no grande terremoto de Lisboa de 1755”, do autor Nicholas Shrady, é um texto perturbador sobre um dos maiores desastres da historia lusitana. É um daqueles típicos livros onde você não consegue parar de ler simplesmente porque a informação que vem depois é ainda mais impressionante daquele que você acabou de ler. Eu certamente definiria sua narrativa como ardilosa e oscilante, pois em um primeiro momento temos a impressão de que o autor esta tentando segurar o leitor através do puro sensacionalismo e logo em seguido ele joga o texto em um rumo completamente diferente empregando um tom narrativo mais seco e objetivo. Essa mudança brusca pode parecer um ponto negativo, mas não é o que acontece em “O ultimo dia do mundo”. A descrição do terremoto em si se resume a algumas poucas paginas logo no primeiro capitulo. O autor não emprega longas digressões até chegar ao clímax da obra, pelo contrario, ela joga toda a crueza daqueles momentos terríveis logo de cara isto porque o texto de Shrady trabalha sobre os desdobramentos do evento e não sobre o evento em si. O autor se beneficia através desse foco narrativo de uma quantidade infinitamente maior de material, por meio do qual ele faz questão de deixar clara a sua postura anticatolica. Não se trata de um simples ataque a igreja, mas da construção de uma atmosfera de medo criada pela inquisição em uma época onde o cientificismo já havia se consolidado por meio da física de Newton e do deísmo da ilustração. Logo no segundo capitulo vemos a primeira grande mudança narrativa quando o fenômeno natural cede espaço para o fenômeno humano: Sebastião Jose de Carvalho e Melo, o lendário Marques de Pombal. O autor reconstrói a imagem desse ícone lusitano que modernizou o ensino, a administração pública e travou um longo conflito com a igreja. Em nenhum momento busca-se construir uma personalidade de herói nacional. O marques é descrito de forma bidimensional como um homem que diante do caos provocado pelo terremoto ordenou a colocação de forcas para punir os acusados de saquear lojas e armazéns e que ao mesmo tempo condenava a crueldade da igreja católica. O meio da obra é basicamente uma descrição dos fatos históricos mais relevantes da nação portuguesa. O Brasil aparece como uma importante fonte de recursos, principalmente ouro, o que permitiu a coroa portuguesa governar sem ter que recorrer as Cortes para a aprovação de verbas. A atmosfera filosófica dominada pelo otimismo do período desmorona completamente diante das criticas pertinentes de Voltaire tendo como base o trágico terremoto. Esse é um dos pontos mais abordados pelo autor, e também é um dos momentos mais interessantes e polêmicos do texto. A obra “Candido e Otimismo” surge como uma importante base critica do filosofo francês que enxergava a realidade ao invés de projetar nela seus desejos. Na última parte o texto retoma a narrativa a partir do Marques de Pombal e mostra suas tentativas de eliminar o senso comum puramente misticista que envolvia o terremoto. Falhas geológicas e placas tectônicas só seriam compreendidas mais de um século depois, mesmo assim Pombal conseguiu estabelecer, através dos principais luminares de sua época e também de séculos anteriores – como Robert Hooker que havia demonstrado a relação de elasticidade em objetos sólidos – uma base cientifica bastante satisfatória que esclarecesse o modo como os terremotos aconteciam. Foi um golpe de mestre, pois ele transformou em vitimas do acaso aqueles que a igreja definia como pecadores castigados. “O último dia do mundo” é um texto denso no seu conteúdo, mas leve na sua narrativa. Agradável, intrigante, revelador e profundamente perturbador. Vale cada minuto de leitura! AUTOR TIAGO R.CARVALHO Título: O Último Dia do Mundo Autor: Nicholas Shrady Editora: Objetiva Especificações: 288 páginas
domingo, 12 de fevereiro de 2017
“A morte é um problema dos vivos.”. - Norbert Elias“Alemanha, 1945” do autor Richard Bessel trás a tona, de forma muito competente, os dramas políticos e humanos de uma Alemanha arrasada pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A pergunta que se faz é se esta obra é relevante para quem já possuiu um largo conhecimento sobre a Segunda Guerra Mundial? A resposta é sim! Não se trata apenas mais uma obra sobre o tema e sim de um texto de aspecto singular quanto ao que ele se propõe fazer. Existem muitas informações interessantes aqui, a abordagem do autor é bem objetiva, clara sem recorrer a uma dramatização desnecessária ou piegas. Bessel parece compreender bem que o leitor de seu texto já possui uma familiaridade com o terrível contexto do conflito, ou seja, é um leitor que já absorveu a essência desumana do nazismo e também os desdobramentos brutais que o mesmo provocou. Não esperem encontrar aqui uma abordagem sentimental e este talvez seja o grande mérito de Richard Bessel, pois ele conseguiu criar um texto onde o elemento humano é predominante porem o foco é mais político, geográfico e sociológico. Há uma oscilação constante entre as decisões tomadas em nível de governo e as conseqüências dessas decisões na vida do cidadão alemão comum. Bessel explora a individualidade apenas para mostrar o quanto o elemento humano é afetado por medidas completamente alheias a sua realidade. O foco do texto são os meses imediatamente posteriores a rendição da Alemanha, mas a obra só entra nesse seguimento após um resumo dos últimos meses de combate, onde o pano de fundo é a defesa desesperada do território alemão. O sangrento mês de janeiro de 1945, o mais sinistro da historia da wermarcht quando 450 mil soldados alemães foram mortos, abre a seqüência de eventos narrativos que expõem o desabamento final do III reich. O ponto forte desta obra impressionante é a abordagem do autor sobre os movimentos migratórios ocasionados pela fuga da população civil alemã das regiões onde os combates eram mais intensos. Aqui ele não se priva de absolutamente nada para compor seu quadro narrativo. Verdadeiras tragédias e desastres são apresentados sempre com o amparo de dados estatísticos. Números é algo que Richard Bessel usa e abusa em seu texto e é justamente esse recurso que expõe ao leitor a magnitude do conflito. O campo de batalha urbano é explorado de forma tridimensional: a perda de referencia geográfica provocada pela destruição das ruas e construções, as conseqüências geradas pelo desaparecimento do Estado policial nazista, a forma como esses eventos foram assimilados por pessoas de diferentes faixas de idade, a desintegração da unidade familiar diante da realidade apocalíptica do pós guerra que naturalmente legitimava o abando da conduta moral e a satisfação imediata das necessidades mais primitivas. Na segunda parte do texto o foco é a administração das potencias aliadas em suas respectivas zonas de ocupação, é e nesse ponto que “Alemanha 1945” emerge como uma obra ímpar e que talvez se compare, em mérito, apenas ao impressionante “Pós Guerra” de Tony Judt. Os dados referentes aos números de prisões efetuadas nas zonas de ocupação americana, soviética, francesa e britânica vão surpreender aqueles mais acostumados a aceitar a idéia de que a zona soviética foi a mais brutal em termos humanos. O que mais impressiona, no entanto, são os dilemas enfrentados pelos aliados para alimentar a população alemã. A escassez de alimentos provocada, por exemplo, pela migração das zonas rurais é tão bem narrada pelo autor que causa um impacto muito mais significativo no leitor do que os combates propriamente ditos. Isso deu vazão a tendência alemã de se definirem, nos anos do pós guerra, como vitimas ignorando o sofrimento que o nazismo levou a tantos países ao longo do regime de Adolf Hitler. “Alemanha 1945” é uma obra de leitura obrigatória, atual e nada genérica. Vale muito à pena! AUTOR TIAGO R. CARVALHO Título original: GERMANY 1945 Tradução: Berilo Vargas Páginas: 504 Peso: 0.763 kg Acabamento: Brochura Selo: Companhia das Letras Documentário que serve como complemento da obra:
A CAMAREIRA
“Sabe o que há de belo na faxina? (...) E que a sujeira sempre volta.”O afeto é como o mercado publicitário: sua função é criar novas necessidades! O triunfo do individuo sobre a sociedade é a meta de muitos anônimos que atualmente compõem o mosaico urbano. Indivíduos que buscam uma forma de existência pouco comum e que se aventuram num mergulho constante das possibilidades. Nem sempre aquilo que está disposto nas prateleiras da sociedade satisfaz as minhas necessidades ou possui um valor acessível aos meus interesses. Diante da escassez por que não explorar novos meios de satisfação? O valor nem sempre se reveste da utilidade do produto, pois na maioria dos casos é a ausência de utilidade que confere valor as coisas. Linda Maria Zapatek, ou simplesmente Lynn, nasceu em 1975, possui cabelos castanhos, olhos verdes, um metro e sessenta e cinco de altura. Desempregada ela mora de aluguel – que é pago por sua mãe - é que gosta de assistir “Tempos moderno” durante as noites: eis a protagonista da obra “A Camareira”, do autor alemão Markus Orths. Logo de inicio somos expostos ao fluxo de pensamentos de uma personagem que confabula sobre os aspectos físicos de um edifício. Vidros enormes cobrem a fachada do imponente prédio sem que a privacidade da rotina em seu interior pudesse ser ocultada. “por que não paredes, pedra concreto?” - ela se pergunta. Não se trata de uma narrativa prolixa e muito menos de um mero recurso de preenchimento da estética literária. É por meio dessa explanação descritiva do espaço geográfico que o autor constrói os elementos visuais que devem orientar a leitura através do seu contexto. Nessa obra em particular os detalhes dos cenários descritos pela própria personagem são relevantes porque são esses detalhes que estabelecem uma forma interessante de dialogo. Pessoalmente gosto muito desse tipo de introdução, na maioria dos casos ela imprime um ritmo de leitura agradável e cria uma valorização do individuo por meio do seu papel, uma espécie de nicho social. Seu olhar atento discorre sobre as peculiaridades do que vê nas ruas: “Como seria se ninguém me notasse? Se as pessoas não vissem ao redor de mim, vissem através de mim. Como se eu não existisse (...). Cada dia é uma abreviação do tempo, cada passo, uma abreviação do caminho.” Para o leitor esse primeiro momento representa exatamente isto: cada pensamento de Lynn representa uma abreviação da extensão de sua personalidade. Ela finalmente consegue um emprego como arrumadeira de quarto de hotel onde se diverte fazendo deduções lógicas:
“Uma escova de dentes esquecida? O hospede terá de comprar uma nova. Um desodorante barato? Ele não dá valor à higiene do corpo. Fios de barba na pia: sinal de desatenção. Absorvente na nécessaire? Um cheiro de cólicas no ar. Um relógio masculino sobre o criado-mudo? O homem terá de perguntar as horas durante a viajem.”Certo dia, enquanto divagava sobre o hospede do quarto 303, Lynn é surpreendida por seu retorno e imediatamente se esconde sob a cama. Nesse momento ele descobre uma nova forma de prazer: observar a privacidade alheia – a diversão perfeita para o desajustado social. Naqueles momentos de intimidade Lynn assistia a tudo, numa forma de vida cada vez mais distante do pueril. Era seu conceito próprio de amadurecimento, de crescimento, mas esse método não se pareava com o conceito de “maturidade” de seu tempo. Bisbilhotar a vida alheia era algo reprovável em uma mulher adulta, postura ridícula em termos de comportamento. Essa é uma situação no qual o mais absurdo dos comportamentos perde aquilo que faz dele um ato estúpido, pois o que permanece é apenas o instinto primitivo de saciar a curiosidade sobre uma realidade que não nos pertence. Aquilo que ocorre entre quatro paredes, longe do crivo moralista e hipócrita da sociedade possui um valor diferenciado porque circula por diferentes meios e se expressa de diferentes formas. O desejo de Lynn em permanecer anônima, como expectadora, debaixo da cama, acompanha a idéia de identificação através da posse: por que devo permitir me identificar como detentora de algo cujo segredo é o que lhe atribui valor? O segredo é o que atribui valor a privacidade. Lynn parecia sentir que a relação entre duas pessoas, sejam elas do mesmo sexo ou não, se baseava nas semelhanças que estas partilhavam aos olhos da sociedade, mas a força que mantinha aquela forma ilógica de coesão afetiva se expressava nas diferenças e estas só se manifestavam na privacidade aparente de quatro paredes. O concreto, neste caso, não apenas limitava o alcance do olhar, ele impedia que o poder do desejo físico ganha-se espaço junto a uma consciência moral disseminada onde o afeto figurava como a verdadeira força das relações humanas. O que mais me chamou a atenção na obra “A camareira” é que a leitura de seu texto, e sua digestão posterior, permitem resgatar um tema bastante polemico que é a questão da natureza contraditória dos valores morais. A privacidade sempre foi objeto de fascinação dos seres humanos. O que as pessoas fazem entre quatro paredes ou mais precisamente o seu padrão de conduta sexual, sempre serviu de base para um julgamento moral, ainda que esse julgamento se expresse de forma velada. Se nos propusermos trazer esse tipo de debate para o contexto social do momento, marcado por movimentos de reafirmação por direitos civis, como por exemplo, o direito de união civil de pessoas do mesmo sexo, veremos contradições nos argumentos que se opõem a normatização jurídica de tais direitos.Em primeiro lugar pessoas contrarias a união de casais do mesmo sexo invocam aspectos morais e religiosos como argumentos. Esses mesmos “defensores da moralidade” abraçam o direito da privacidade e alegam não se interessar pela vida particular de cada um. Nada mais contraditório! A diferença entre um relacionamento hetero e um relacionamento homo se expressa em privado, na intimidade impenetrável de cada um. Como então podem alegar serem contrários a união de pessoas do mesmo sexo e ao mesmo tempo se dizem avessos a qualquer tipo de curiosidade sobre a vida particular de cada um? O suposto “pecado” ocorre entre quatro paredes, longe dos olhos e acessível apenas a imaginação. Como negar que nesse caso é a curiosidade que determina a conduta? Porque a sociedade é tão permeável a critérios de valor moral? O corpo social é como uma arvore: à medida que cresce se ramifica e se torna mais complexo. A criação de condutas valorativas nesse contexto funciona como um elemento que unifica as pessoas em torno de um valor comum. E nessa associação coletiva - em que cada um aceita destruir a sua individualidade - que nascem os valores morais. É interessante como isso demonstra que mesmo adultos guardamos uma parcela daquilo que já fomos um dia como adolescentes para os quais os valores do grupo têm sempre uma prerrogativa mais elevada em relação aos valores individuais. O texto de “A camareira” é a típica narrativa em que o personagem, ou os personagens, são projeções do meio em que eles se inserem. O ambiente urbano é muito significativo aqui e é através dele que os personagens dialogam com o leitor. O espaço geográfico funciona como conectivo no qual oscila realidade e ficção. É este recurso que facilita que o leitor se identifique e crie simpatia pela protagonista: uma mulher com uma aparência comum, uma historia comum, mas com hábitos e comportamentos incomuns. Uma camareira que encontrou diversão na sujeira banal da privacidade é algo perfeitamente lógico e nada incongruente. É nas entrelinhas do texto que podemos encontra seu objeto de reflexão: a questão da busca por satisfação e sua suposta incompatibilidade com a moral da sociedade civilizada. A definição de prazer dada pela psicanálise freudiana é muito abrangente é não se resume apenas a atividade sexual. O prazer pode decorrer de uma leitura, de um passeio ou até mesmo de uma simples conversa. Por que então se condicionou a satisfação ao ato sexual? O filosofo Herbert Marcuse, em sua obra “Eros e Civilização”, concluiu que o método de produção da sociedade moderna, sempre havida por aprimoramentos e incremento produtivo, havia reprimido a busca pela satisfação individual. Para o funcionário dedicado e trabalhador era impossível encontrar prazer nos afazeres diários, pois estes eram cansativos, desgastantes, repetitivos e em muitos casos prejudiciais a saúde. O trabalhador reprimia suas vontades para assumir o papel de responsável e de chefe de família. Reprimir as próprias necessidades é algo que não dura por muito tempo. O liberalismo sexual das décadas de 60 e 70 assinalou os limites impostos pela repressão da nova ordem mundial. Uma onda de hedonismo tomou conta da sociedade. A imagem do trabalhador disciplinado começava a cair por terra ameaçando o padrão produtivo, mas a reação capitalista foi imediata. Imediatamente adotou-se o órgão genital, e tudo aquilo que fizesse referencia a ele, como estratégia de combate ao descompromisso do pensamento hedonista. Revista com mulheres nuas, filmes pornográficos, roupas mais provocantes e cartazes de roupas intimas foram criados. A ideia era de que o mercado oferecesse produtos que saciassem a busca por prazer individual afastando de vez o fantasma da indolência. A partir daí o prazer tornou-se um conceito atrelado a duas coisas: consumo e sexo. Lynn conseguiu encontrar uma forma de romper essa repressão encontrando prazer dentro e fora dos limites da sexualidade. Ironicamente o liberalismo sexual aprisionou a sociedade ao definir as “rotas do prazer”. A obra de Markus Orths nos leva a refletir: a sociedade é uma mistura de estupidez e ousadia, a dificuldade é definir quem são os ousados e quem são os estúpidos. Boa leitura! AUTOR TIAGO R. CARVALHO Título: A CAMAREIRA Título Original: DAS ZIMMERMÄDCHEN Páginas: 136 Editora:LePM OBS: As duas obras de arte do texto são do pintor norte americano Tom Wesselmann, um dos maiores representantes da "Arte Pop", e cujas obras criticavam a transformação do erotismo em produto de consumo.
sábado, 11 de fevereiro de 2017
MDNA
“Se você ouvir a bateria de Like a virgin vai perceber que é gorda, larga e espaçosa. Ela preenche o som da canção. Se tivesse sido feito diferente, a musica teria perdido autoridade. Sabíamos como o som mexeria com o publico de maneira subliminar – E muito do que nos atrai na musica está na persistência com que ela se agarra ao subconsciente.”O álbum Like a virgin foi lançado em novembro de 1984. Esse talvez tenha sido o trabalho de Madonna que mais probabilidade teve de fracassar devido à mudança no estilo em relação ao seu trabalho anterior e também por ter sido lançado em um momento onde o mercado musical era dominado por artistas como Michael Jackson – que reinava absoluto com Thriller – e Prince que com o sucesso de Purple Rain ganhava cada vez mais destaque. O mercado musical também enfrentava crises devido à redução do numero de adolescentes. À medida que a população envelhecia e os adolescentes se tornavam adultos as vendas de singles despencavam. Aquele era sem duvida um momento difícil para a carreira de qualquer artista. O funil provocado pela concorrência e pelo mercado em crise funcionou como uma espécie de seletor de astros. Foi nesse contexto que a MTV surgiu como um dos mais significativos meios de comunicação. Madonna se apoiou nessa crescente indústria de vídeo clipes e teve o mérito de saber usar sua sensualidade e desenvoltura em proveito próprio. Ela conseguiu direcionar a critica para além de seus limites vocais – algo da qual era plenamente consciente. A dança deu a ela uma noção valiosa quanto ao ritmo e seu visual diferenciado foi um prato cheio para a indústria de videoclipes da época. Ela possuía estilo e um visual bastante favorável a comercialização, assim como sua mais forte concorrente: a lenda pop dos anos 80 Cindy Lauper que com os sucessos “Girls Just want to have fun” – cuja letra consiste num autêntico retrato dos desejos femininos do período – “True Color” e a imbatível “Time after Time”. Talvez seja mais claro identificar Cindy Lauper como sua mais significativa concorrente pelo fato de ambas imprimirem através de sua imagem e suas musicas a mesma proposta de transgressão e repudio ao conservadorismo. Até que ponto seu engajamento político das ultimas décadas se contrastava com a aparente esterilidade política de suas musicas nos seus primeiros anos de carreira? Se considerarmos que suas musicas possuem uma mensagem fortemente carregada pelos sentimentos femininos veremos que desde o inicio sua musica carrega um certo posicionamento político na medida que ela propõe uma nova postura - sobretudo da população feminina - ao mesmo tempo que se constrói como um ícone capaz de moldar opiniões, embora essa não fosse sua intenção. Madonna vivia o auge da geração Yuppie deflagrada pela era do neoliberalismo de Ronald Regan. Impostos reduzidos se traduziam em menos responsabilidade social por parte do governo, ambiente perfeito para o espírito empreendedor. Não é sem motivo que a ambição se tornou característica positiva para os jovens ávidos por ascensão social. Interessante ver que Madonna não confrontou os valores sociais desse período, pelo contrario até se identificou com eles... até compor Material Girl. O sucesso de Material Girl fez com que a musica se consagrasse como um hino pop contrario a personalidade materialista, porem Dress you Up coloca em relevo a mesma questão de forma muito mais competente. A letra faz uma comparação entre as sensações experimentadas por aquilo que o dinheiro podia comprar, no caso roupas luxuosas, e aquilo que só se podia ser sentido através do afeto. As fortes batidas isoladas na introdução e que permanecem praticamente inalteradas preenchendo a canção conferem a esta um ritmo que acaba reforçando o vigor da letra. Criticada por sua postura nada comum, contestada por suas opiniões, admirada por sua obra, imitada em seu estilo, odiada e de certa forma temida por sua ousadia. Modonna é talvez a celebridade que mais acumula conceitos. Ela cumpriu bem seu papel como representante de uma forma contemporânea de arte cuja construção se funde num misto de linguagem corporal e arranjo musical. Ela escapa a compreensão porque se reinventou de uma forma que sua postura e sua opinião não fizessem paralelo nos costumes. Nunca se posicionou a margem de seu mundo, sempre buscou o ângulo através do qual pudesse impactá-lo. Sua natureza fortemente criativa e sinalizada por um de seus aspectos mais característicos: a tendência de se reinventar constantemente. O método caiu perfeitamente ao “estilo Madonna”, pois à medida que buscava uma nova imagem para si própria ela alimentava a figura da mulher forte e dominadora – algo que fazia questão de reafirmar constantemente – que não acompanhava as tendências, mas que as criava. “Eu não defendo um estilo de vida eu descrevo um”- disse ela durante uma entrevista coletiva. Madonna que sempre soube usar o poder da linguagem corporal tinha consciência do papel do olhar como parte da expressão dos sentimentos. “True Blue” – escrita por ela e dedicada ao seu marido, na época o ator Sean Pen - faz uma alusão a cor dos olhos de Pean como um espelho de seus sentimentos verdadeiros. True Blue (Azul verdadeiro) tornou-se o álbum mais vendido no mundo em 1986. Lançado no mês de junho daquele ano ele enfrentou a concorrência direta do álbum True Color (Cores Verdadeiras) de Cindy Lauper, lançado apenas três meses depois. Like a Prayer, o terceiro álbum de estúdio de Madonna, lançado por ocasião dos seus trinta anos, marca uma fase angustiante de sua vida. O álbum deve seu sucesso à forma sabia com a qual ela soube colocar seus sentimentos em paralelo ao momento econômico dramático da política neoliberal do presidente Ronald Regan. A ideia era se afastar da imagem pop vibrante de seu álbum anterior “True Blue” e mergulhar numa atmosfera angustiante sinalizada pelos cabelos castanhos e por vocais densos. Era o inicio de uma nova fase o que para Madonna não configurava um desafio uma vez que se trata de alguém acostumada a criar diferentes versões de si mesma. “Like a Prayer” retoma a linguagem de “True Blue” sob uma perspectiva menos glamourosa e, portanto se caracteriza como uma projeção complementar do trabalho anterior. Essa perfeita transição entre duas fases marcantes de sua carreira é o que torna “Like a Prayer” o seu trabalho mais admirável e mais próximo de uma autêntica forma de arte, pois é nele que Madonna deposita a mais significativa carga emocional. Suas musicas exalam sentimentos que se constroem por meio da junção de uma sonoridade angustiante e de uma composição carregada de reflexão e confissão, tudo isso sem o toque maçante do recurso trágico. Dessa forma ela não apenas encerrava um capitulo de sua biografia como também reafirmava sua postura dominadora. “Spanish eyes” é uma das mais marcantes faixas do álbum. Carregada de sentimentos a letra fala sobre a busca de consolo na fe como alivio para a dor produzida pela saudade. Em determinado momento da letra ela deixa claro o papel de sua musica como parâmetro de compreensão para seus sentimentos. A extensão mais evidente de “True Blue” em “Like a Prayer” e a canção “Cherish” cuja letra foge dos temas mais densos das demais faixas do álbum. Enquanto “Cherish” configura uma projeção de “True Blue”, “Live to tell” é uma antecipação dos rumos tomados em “Like a Prayer”. Essa dupla conexão entre os trabalhos reflete a presença do produtor musical Patrick Leonard como co autor em ambos os discos. Para quem quiser ler mais sobre a vida da cantora Madonna recomendo a leitura de "Madonna 50 anos", um livro cativante desde o seu inicio e recheado de historias sobre essa lenda do pop. Ótima leitura!! AUTOR TIAGO R. CARVALHO Título: Madonna: 50 Anos Subtítulo: A Biografia do Maior Ídolo da Música Pop Autor: Lucy O'Brien Editora: Nova Fronteira Ano: 2008
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017
OS ANOS 40 DE RACHEL JARDIM
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