Desde o surgimento do chamado Estado moderno - final do século XIV - a centralização do poder nas mãos dos monarcas europeus era sinalizada, dentre outras coisas, pela concessão de monopólios, criação de moedas, exércitos, leis e impostos. Esse predomínio de “poder de direito divino” cambaleou até o século XVIII, quando se tornou pratica a sistematização da razão como método e a secularização do pensamento político. O poder passou a exigir uma base racional para sua legitimidade. Essa imposição deu vazão a perspectivas políticas variadas - divergentes em alguns pontos, mas que partilham de uma origem comum: a existência do chamado
contrato social.
Filho de um simples relojoeiro genebriano, Jean Jacques Rousseu tornou-se um dos protagonistas de seu tempo ao revalidar a temática do contrato social. Essa nova concepção da política forneceu o impulso filosófico que caracterizou as revoltas do século XVIII. É inegável a influência da filosofia de Rousseau nos eventos do chamado “século das luzes”. Sua posição política é amplamente exposta em obras celebres como
O contrato social e
Discurso sobre a origem e os fundamentos das desigualdades entre os homens.
Em
Os devaneios do caminhante solitário, Rousseau deixou de lado o fenômeno político para se concentrar no fenômeno humano. O texto - de apenas 134 paginas - registra suas caminhadas realizadas nos arredores de Paris entre os anos de 1776 e 1778. Em muitos momentos vemos um autor amargurado e desiludido narrar às dificuldades criadas pela chegada da velhice. Em outros um homem que se rendeu aos encantos da natureza divagar sua admiração pelas flores e seus tormentos morais. A valorização do ambiente natural surge na obra como um dos traços mais marcantes da escola literária do Arcadismo – onde a simplicidade da beleza da natureza era empregada como oposição as extravagâncias da aristocracia.
Esteticamente o texto é dividido de forma que cada capitulo consiste em uma caminhada – dez no total - de um determinado dia. Na quinta caminhada, Rousseau fala sobre a felicidade e sua relação com as lembranças. Conclui que nenhum sentimento ou forma de admiração pode ser constante. O fluxo contínuo da mudança acompanha as formas de afetos aos quais somos permeáveis. Na sétima caminhada, Rousseau faz uma revelação no mínimo inusitada para um homem que se imortalizou na figura de um dos maiores pensadores de seu tempo:
“o devaneio me relaxa e me diverte, a reflexão me cansa e me entristece; pensar foi sempre para mim uma ocupação penosa e sem encanto.”
A oitava caminhada é um dos textos mais reflexivos e profundos da obra. Rousseau julga o comportamento humano e condena as opiniões por considerá-las como produto das paixões. O ato em si não é avaliado a revelia das intenções por trás dos mesmos:
“Em todos os males que nos acometem, olhamos mais para a intenção do que para o efeito. Uma telha que cai de um teto pode nos machucar muito, mas não nos fere mais que uma pedra atirada de propósito por uma mão maldosa”.
Em sua ultima caminhada Rousseau fala pela primeira vez sobre madame de Warens - que apesar de ter apenas 28 anos já era chamada de senhora. Seu relacionamento com madame de Warens é um dos temas mais controversos de sua historia pois na ocasião Rousseau tinha apenas 16 anos.
O texto possui um tom agradável e é por si apenas bastante revelador. Vele muito apena ser lido e admirado.
AUTOR
TIAGO R. CARVALHO
OS DEVANEIOS DO CAMINHANTE SOLITARIO
Editora: L&PM EDITORES
Coleção: L&PM POCKET
Idioma: PORTUGUÊS
Ano: 2008
Nº de Páginas: 141
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