Existe uma forte razão para a mentira estar tão presente na vida de milhares de pessoas: ela funciona! E como funciona! Alguns chegam ao ponto de dizer que toda a estrutura social moderna se sustenta de forma oscilatória sobre a mentira. Longe de querer desmistificar essa opinião popular, ao meu ver a mentira, ou “omissão da verdade” como preferem os adeptos dos eufemismos, se estabeleceu de forma tão intensa porque encontrou aplicação pratica em um seguimento onde seu uso tornou-se imperativo: na política.
Longe de querer atribuir uma adjetivação tão depreciativa como característica inerente a todo político no comprimento de sua função, é o próprio contexto da política que insistentemente a nós se apresenta como uma espécie de acrópole dos mentirosos.
A adoção e aplicação extensiva da mentira no cenário político, quase uma dogma, não é um fato atual e muito menos restrito as fronteiras de nosso desigual Brasil. Maquiavel já explorava os “benefícios” dessa ferramenta na celebre obra “O Principe” onde a mentira se iguala a uma mercadoria com retorno garantido, pois sempre existirá demanda: “Os homens são tão simples e tão obedientes às necessidades do momento que quem engana encontra sempre um alguém disposto a se deixar enganar.”
Em tempo de guerra a mentira passa a ser valorizada, admirada e de forma antagônica considerada fundamental para a existência da verdade. Segundo a frase do Primeiro Ministro Britânico, Winston Churchill, durante a segunda grande guerra: “Em tempos de guerra a verdade é tão valiosa que ela deve ser guarnecida por uma escolta de mentiras”.
Mas nem todos estão dispostos a engolir uma mentira assim logo de cara, e para estes cidadãos menos expostos os despudorados já encontraram uma solução: basta dar uma verdade para que o pacote de mentiras seja aceito de braços abertos.
Não faltam exemplos na historia de que a infidelidade da política para com a verdade expressa o caráter imiscível entre ambas. Analogicamente poderíamos considerá-las como cargas elétricas de natureza opostas que se repelem quando cessa a força que as mantém unidas. Quem não se lembra da frase da Ministra da Economia, Zelia Cardoso de Mello, pouco antes do escândalo Collor: “Não vamos mexer na poupança”; das palavras do republicano, e então presidente americano, Herbert Hoover pouco antes da crise de 1929: “Os negócios fundamentais do país, que são a venda de Commodities, encontram-se sobre uma base solida e prospera.”; ou do sorriso amarelo de Neville Charberlein ao retornar de Munique e em 1938 dizendo que “Her Hitler” queria a paz. As maiores mentiras da historia forma orquestradas por hábeis mentes da política.
Restringindo a aplicação pratica da mentira na esfera do cidadão comum a mesma assume contornos menos sérios, porem , não menos danosos. Uma mentirinha aqui, outra mentirinha ali e o jeitinho malandro se estabelece como característica nacional. Malandro que se preze mente até quando não quer e o respeito a esse protocolo é quase religioso. Falando em religião algumas instituições são enciclopédias históricas da mentira, verdadeiros dicionários. Mas esse assunto é tão delicado que prefiro mentir e dizer que nada sei.
A mentira está tão presente no dia a dia do brasileiro que não me surpreende que a Academia Brasileira de Letras queira aproveitar a reforma da gramática para incluí-la como figura de linguagem. Se as bandeiras fosse dada o dom da fala a brasileira seria vencedora do campeonato de mentiras: desde quando progredimos em ordem? Dupla “omissão da verdade” uma vez que nem temos progresso e muito menos ordem. O que temos é um país com dimensões continentais, rico, como um povo que enfrenta a desigualdade com alegria e um bando de políticos que enquanto falam de peso da econômia ostentam o pesado rotulo de mentirosos. Isso pelo menos é verdade... Triste verdade!
AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO
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