sexta-feira, 14 de outubro de 2016

MUSICA É LITERATURA?


Em um primeiro momento pode parecer estranho a vinculação da musica a literatura. Isso ocorre porque ficamos presos a um conceito muito restrito sobre o que é literatura. A materialização da cultura, ou seja, o seu uso como critério de pose, levou a uma comercialização da cultura que aos poucos foi sendo transformada em mercadoria. Ter cultura hoje é sinônimo de comprar livros, adquirir obras de artistas plásticos, frequentar teatros e cinemas. Cultura atualmente é algo que se compra e não o que se pratica!
Obviamente que essa materialização da cultura se estendeu também a literatura. Literatura quando analisada por um conceito mais restrito se resume a livros... a palavra escrita. Um conceito mais abrangente de literatura é aquele que a considera como um produto do trabalho sobre a linguagem. Literatura é isso: um tratamento artístico atribuído a palavra. E isso não se resume a palavra escrita.
Gramaticalmente a linguagem pode ser trabalhada em quatro níveis: morfológico, sintático, semântico e fonológico. O trabalho fonológico sobre a linguagem é aquele que explora a sonoridade das palavras. Musica é isso! Arte é isso! Esqueceram-se do gênero lírico que surgiu para ser declamado ao som de um instrumento musical? Para os gregos da antiguidade Apolo era o deus da inspiração artística. Não é sem motivo que qualquer representação de sua imagem o coloca segurando uma Lira.
Esqueceram-se do gênero trovadoresco medieval no qual a literatura de resumia a versos cantados pelo travador a sua musa admirada? Musica pode sim ser encarada como uma vertente literária. O grande Victor Hugo escreveu em sua magistral obra “Os Miseráveis”: “A musica expressa o que não pode ser dito em palavras mas que não pode permanecer em silencio”.
Vivemos em um século onde o “herói” se dissocia de seu povo. A representação homérica de seu conceito não é mais valida. Não existe mais um Aquiles disposto a transpor as muralhas de Tróia por gloria e em nome de seu povo, não existe mais um Heitor capaz de dar sua vida em defesa de sua nação. O “herói” moderno luta individualmente, busca seu próprio espaço em nome próprio. Seus obstáculos não são monstros marinhos, como os enfrentados por Odisseu, ou leões gigantescos da região da Nemeia. O herói moderno enfrenta a si mesmo, dia após dia. Tornou-se indiferente ao mundo.
E essa postura de indiferença do homem moderno que naturalmente promove um resgate da tradição oral. A poesia cantada como a de Homero funcionou como elemento agregador do povo grego. Forneceu a eles o conceito de nação. Era uma literatura com fins políticos, mas isso não significa que não fosse arte.
O premio Nobel é um reconhecimento publico que acompanha o progresso tecnológico de seu tempo. A musica dissemina sua mensagem de forma mais clara que a escrita. Somos mais receptivos aos sons. A primeira manifestação daquilo que sentimos em vida nos expressamos através do choro. Um bebe que chora busca chamar a atenção para algo que se sente. Os sons são à base de nossa expressão sentimental!
Literatura é musica? Depende do que você considera literatura. Eu particularmente acho que a função da literatura é preencher nosso vazio com palavras e ocasionar alguma forma de reflexão. Não me importa se essas palavras são faladas ou se são escritas... o que me importa é que elas não deixem de serem ditas!
AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO

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