quarta-feira, 9 de agosto de 2017

BIOGRAFIA INTIMA DE LEOPOLDINA


“nós, pobres princesas, somos como dados cuja sorte se joga e cujo destino depende do resultado. Dirás que sou uma verdadeira filosofa, mas o fogo da juventude se apaga facilmente quando as pessoas se tornam prudentes por experiência própria”.
- Leopoldina
“A biografia intima de Leopoldina” do cientista político Marsilio Cassoti, talvez venha resgatar a imagem real da princesa do Brasil, considerada até então como coadjuvante no processo de independência. Leopoldina foi tão determinante no processo quanto o próprio imperador Dom Pedro I. Lamentavelmente a historiografia brasileira encerrou-a dentro dos moldes da estrangeira feia, desleixada, subordinada ao marido e restrita ao papel de mãe.
Na obra de Cassotti vemos despertar uma jovem de beleza austríaca, inteligente e apaixonada por mineralogia e ciência. As primeiras cem paginas narram o período de formação de Leopoldina desde a infância até o momento em que ela finalmente desembarca no Brasil. Apesar de ser um texto fácil de ler acredito que essas primeiras paginas possam, de alguma forma, entediar leitores menos familiarizados com biografias de personalidades históricas. Não foi esse o meu caso!
Leopoldina teve no Brasil o que se pode definir como uma vida monótona e marcada por humilhações devido a infidelidades do seu marido. Ela se refugiava na natureza, se empenhava nas aulas de piano, português e latim. Adorava passar as tardes na famosa “cascatinha do tijuco” ou cavalgando. Esse estilo de vida pacato não tornava sua historia desinteressante embora não se possa dizer que possua o mesmo vigor que a historia de sua famosa tia, a extravagante rainha francesa Maria Antonieta.
A admiração por Leopoldina surge diante da narrativa de uma noite chuvosa quando uma princesa, ostentando um ventre com cinco meses de gestação, se levanta da cama preocupada com a perspectiva de um ataque das tropas portuguesas enviadas de Lisboa. Enquanto Leopoldina pensava na situação política, Dom Pedro se perdia nos braços de sua amante, a famosa Domitila de Castro. Na manha seguinte, 2 de setembro, a revelia de Dom Pedro, Leopoldina reuniu o Conselho de Estado. Foi esse conselho, marcado pela presença dominante de Jose Bonifacio de Andrada e Silva, outro ícone admirável da historia do Brasil, que deu inicio ao processo de separação de Portugal. Logo após e reunião do conselho Leopoldina escreveu a Dom Pedro:
“(...)O Conselho de Estado vos aconselha a ficar. Meu coração de mulher e de esposa prevê desgraças se partirmos agora para Lisboa. Sabemos bem o que tem sofrido nosso país. O rei e a rainha de Portugal não são mais reis, não governam mais, são governados pelo despotismo das cortes que perseguem e humilham os soberanos a quem devem respeito. O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com vosso apoio ou sem vosso apoio, ele fará sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrecerá.”
Após ler a carta de Leopoldina, Dom Pedro se restringiu ao gesto patético de dizer a seu assistente: “Dize à guarda que acabo de fazer a independência completa do Brasil. Estamos separados de Portugal!”
O tom político que a obra assume em determinado momento pode frustrar um pouco aqueles que esperavam de fato uma biografia “intima” da princesa do Brasil. No entanto após os acontecimentos do processo de independência a narrativa volta à esfera privada de Leopoldina, começando com a perda de seu mais poderoso aliado: Jose Bonifacio, que caluniado por seus rivais ousou levantar suspeitas sobre Domitila. Irritado com as alegações de Bonifacio o imperador acabou por demiti-lo do cargo de Ministro.
Leopoldina passou a se refugiar cada vez mais na natureza, passou a se importar ainda menos com sua aparência e a buscar na solidão das cavalgadas a resposta para seus dilemas. Na madrugada do dia 1º para 2 de dezembro ela sofreu um aborto espontâneo. Seu estado foi ficando cada vez mais critico até que na manha de 11 de dezembro de 1826 sua historia chegou ao fim. Tinha apenas 29 anos de idade.
A jovem princesa do Brasil certamente não tem o reconhecimento que deveria ter. Foi uma mulher admirável que certamente teria tido uma vida muito mais gloriosa como princesa de um país que valoriza-se mais as artes e o conhecimento. Sua tragédia talvez se deva ao fato de ser uma jovem princesa em um país ainda mais jovem. Ótimo Livro!!!
AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO
A BIOGRAFIA INTIMA DE LEOPOLDINA
Autor: CASSOTTI, MARSILIO
Editora: PLANETA DO BRASIL
Ano: 2015
Nº de Páginas: 304

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