Durante a baixa idade media o Renascimento Comercial foi responsável pela evolução do comercio a longa distancia, ou seja, enrugou o cenário geográfico e dinamizou a troca de mercadorias entre os núcleos urbanos. Inicialmente as rotas de comercio eram predominantemente marítimas, o que explica o desenvolvimento mais expressivo das cidades próximas do litoral. Os transportes terrestres eram quase inexistentes devido às péssimas condições das estradas e da carência de estruturas como pontes, o que tornava a maioria dos rios verdadeiras barreiras intransponíveis principalmente nos períodos chuvosos.
A Revolução industrial ocasionou uma verdadeira reviravolta nos transportes com a adoção da maquina a vapor no lugar da tração animal. O tempo e o custo dos transportes despencaram e os núcleos urbanos se dispersaram para alem do litoral. É nesse contexto que se enquadram o surgimento das grandes metrópoles. O alicerce geográfico criado pelo desenvolvimento das vias de transporte funcionou com um importante fator para o surgimento das grandes cidades, bem como pela característica desconcentração dos aglomerados industriais e humanos.
Um dos maiores problemas das grandes metrópoles é o transito. As vias de transporte intercontinentais e interestaduais foram aperfeiçoados com a finalidade de facilitar o escoamento de mercadorias entre os portos e as regiões produtoras, sendo este um importante mecanismo do comercio a nível global. A mesma atenção não foi dispensada a esfera municipal. Sustentar a complexa rede de trocas, consagrada pela emergência do setor terciário junto aos grandes centros urbanos, exige um aprimoramento progressivo das estruturas capazes de atender as demandas do comercio. Esse desenvolvimento pautado nas imposições da economia e não na geografia urbana têm ampliado o caos metropolitano.
O desenvolvimento das grandes cidades tem seguido um padrão quase uniforme: o núcleo se desenvolve ao longo de um rio ou uma via radial em torno da qual se criam vias menores e mais complexas de comunicação, cuja função e facilitar o acesso ao grande centro – coração comercial da cidade. Em alguns países como Alemanha, Japão e Estados Unidos a expansão das taxas de conurbação é tão alta que já se fala nas chamadas megalópoles.
Atualmente a engenharia de transito parece presa a um método pouco eficiente: a construção de viadutos nas zonas mais movimentadas e alargamento das vias principais. O esgotamento desse método é bastante evidente para qualquer morador de uma grande cidade.
CRESCIMENTO URBANO E MERCADO IMOBILIARIO
O crescimento exponencial das cidades é quase sempre acompanhado pela decadência de regiões anteriormente super valorizadas; a decadência do grande centro comercial é um fenômeno relativamente atual. A fuga do comercio de mercadorias de alto valor agregado para as regiões periféricas com alta concentração de renda é um dos reflexos da transformação sofrida pelo comercio da região central, cada vez mais direcionado as mercadorias populares.
Em Belo Horizonte (me perdoe o leitor se pareço por demais regionalista) essa desconcentração comercial é bastante evidente: na região do bairro Santa Inês é possível notar o surgimento de um subcentro comercial ao longo da Avenida Contagem.
Em um curto período de tempo a região acumulou lojas, agencias bancarias, restaurantes, shoppings, supermercados e prédios comerciais. Tudo isso foi precedido pelo aumento do valor dos alugueis residenciais e comerciais, pela ampliação do número de postos de gasolina e pela maior oferta de opções de “lazer noturno”, como bares e churrascarias. Essa concentração ao longo de toda a avenida não foi por acaso: o serviço de metrô, cuja linha liga a Estação Central a Estação Santa Inês, localizada na extremidade sudoeste da avenida, funcionou como ponto de escoamento para o fluxo de consumidores do grande centro. Isso favoreceu ao acumulo de comercio nos quarteirões que delimitam a avenida, explicando parte crescimento rápido e da valorização repentina dos terrenos da região.
Outra importante característica dos núcleos urbanos está diretamente relacionada a expansão das vias de transporte: o déficit habitacional. Nas metrópoles o dinheiro é a mercadoria mais cara é o imóvel e a mercadoria mais expressiva. A expansão do mercado imobiliário gerou uma aceleração do crescimento da região central através da valorização progressiva dos terrenos junto ao cinturão mais interno das grandes cidades. Como conseqüência a população tem se espalhado de forma desordenada sobre o tecido urbano, criando zonas de baixa densidade demográfica e aumentando o tempo das chamadas “migrações pendulares”, isto é o trajeto que o cidadão realiza todos os dias da casa até o trabalho.
Considerando-se o papel do imóvel como mercadoria no contexto urbano fica fácil entender o alto índice do déficit habitacional das grandes cidades. Todo o cidadão urbano é um consumidor do mercado imobiliário antes mesmo de ser um cidadão, no sentido estrito da palavra. A valorização constante dos imóveis residenciais contribuíram para o aumento das regiões de morros e favelas, uma das principais moléstias urbanas.
POLUIÇÃO AUTOMOTIVA: O PERIGO VEM DOS CEUS
A poluição urbana, sobretudo a relacionada aos gases liberados pela queima de combustíveis fosseis, agride tanto a saúde dos cidadãos quanto as estruturas urbanas. O fenômeno da chuva acida, ocasionada pela associação de óxidos anidros - como o dióxido de enxofre (SO2), o dióxido de nitrogênio (NO2) e o dióxido de carbono (CO2) - com a água presente nas nuvens causa danos a vegetação, ocasiona a poluição de lagoas e rios, a contaminação do solo e a destruição de estruturas de concreto, mármore e ferro.
"GREAT SMOG" - LONDRES 1952
Um fato histórico relacionado a poluição ocorreu na cidade de Londres, entre os dias 5 e 9 de dezembro de 1952. Tudo começou quando uma frente fria invadiu a cidade levando a população a consumir muito carvão no aquecimento residencial. O carvão usado era de baixa qualidade e possuía muito enxofre ocasionando a liberação de dioxido de enxofre. Graças ao fenômeno da inversão têrmica a nevoa de poluente não se dissipou e cobriu a cidade por quatro dias. Mais de 100 pessoas ficaram doentes e cerca 12 mil londrinos morreram no episodio que ficou conhecido como
"Great Smog".
FENÔMENO DA INVERSÃO TERMICA: A CAMADA DE POLUENTE NÃO SE DISSIPA PARA AS REGIÕES MAIS ALTAS.
Em 2012 o número de veículos na cidade de Belo Horizonte atingiu o número de 1.519.438. Por meio desse número consegui realizar um calculo estimado sobre a quantidade de acido formado pela queima de combustível. O calculo exige um certo conhecimento sobre química e pode parecer um pouco complexo para o leitor com pouca afinidade com a matéria.
Neste caso basta desconsiderar a parte matemática, que coloquei aqui apenas a titulo de curiosidade. Imaginando uma situação hipotética onde apenas 600.000 destes veículos deixassem as garagens em um dia da semana, e supondo que cada um consumisse 1 litro de gasolina e possível obter um dado interessante, empregando conhecimentos sobre reações e estequiometria química. De forma simplificada o calculo pode ser descrito da seguinte forma:
1.514.438 veículos (BH/2012)
Gasolina: Densidade 775g/L
Teor de enxofre: 1000 ppm (Partes por milhão)
Considerando-se apenas 600 mil veículos (por eliminação hipotética dos movidos a álcool e diesel) onde cada um consumiria 1 litro de gasolina por dia o resultado final seria o consumo de 600.000 litros de gasolina.
775 x 600.000 = 465.000.000 = 4,65 x 10^8g de gasolina
Cálculo do numero de mol:
n= m/M = 4,65 x 10^8/58 = 8,02 x 10^6 mol de gasolina
1000 mol (Enxofre) -------------- 1.000.000 mol de gasolina
X -------------- 8,02 x 10^6 mol de gasolina
X = 8,02 x 10^3 mol
Reação de combustão do enxofre
Supondo um dia com temperatura de 27ºC:
PV = n.R.T
1V = 8,02 x 10^3 . 0,082(27 + 273)
V = 1,97 x 10^5
V = 197 000 Litros de H2SO4
Calculo do PH em função do volume de água:
H2SO4 ----------------2H+ SO4-2
Precipitação media: 33 mm/h = 0,033 m
Supondo que a chuva ocorre se numa área de 25 km quadrados:
V = 0,033 x 5000 x 5000
V = 825 000 metros cúbicos = 825.000.000 Litros de água
8,02 x 10^3/8,25 x 10^8 = 9,7 x 10^-6 mol de H2SO4 por litro de água
Como o acido sulfúrico é um acido forte ele apresenta 100% de dissociação. De acordo com a equação balanceada a proporção seria de 1:1:1, logo a Molaridade do acido será igual a Molaridade do íon H+:
HSO3- ⇌ H++SO32-
Molaridade do H2SO4: 9,7 x 10^-6
Molaridade do H+: 9,7 x 10^-6
pH = - Log [H+]
pH = - Log (9,7 x 10^-6)
pH = - (log 9,7 + log 10^-6)
pH = - (0,98 +(-6))
pH = 5,02
Essa chuva teria a acidez ligeiramente inferior a do suco de laranja.
Em algumas regiões já foram registradas chuvas com pH 2, o que equivale ao nível de acidez do vinagre (Acido Acético). Vale recordar que esse calculo não considera o dióxido de enxofre emitido por fabricas, queimadas e veículos movidos a diesel, o que certamente abaixariam ainda mais o pH (lembrando que o pH acido é inferior a 7, ou seja, quanto menor o numero maior o nível de acidez).
Só para se ter uma ideia a cidade de São Paulo possui 7 milhões de veículos em circulação e a emissão de gases como SO2 e NO2 é infinitamente maior. Da para imaginar a acidez das chuvas que atingem a capital, geralmente durante as tardes, ocasionadas pela elevação da massa de ar quando a mesma se aproxima da região da serra do mar.
CHUVA EM SÃO PAULO: AS CHUVAS ACIDAS CAUSAM DANOS A ESTRUTURAS URBANAS COMO A ESTATUA A ESQUERDA DA FOTO
As chuvas que caem durante a madrugada são mais acidas que as precipitações ocorridas durante o dia. Isso ocorre porque na ausência de luz solar as plantas deixam de absorver CO2 do ar uma vez que o processo de fotossíntese (chamada de fase clara) deixa de acontecer. Nesse caso ocorre aumento da concentração de CO2 no ar contribuindo para a diminuição do pH da chuva. A concentração de CO2 atinge valor mínimo entre as 12h e às 13h, pois nesse período de intensa iluminação a taxa de fotossíntese é alta. O ar urbano começa a se tornar perigosamente danoso nas primeiras horas da tarde, quando a iluminação reduz e aumentar a emissão de CO2 devido ao transito movimentado dos horários de pico.
Os carros a álcool podem até representar uma opção mais econômica e menos poluente que os veículos a diesel ou gasolina, porem os danos causados a saúde do cidadão comum são infinitamente piores. Quem já teve, ou tem, um veiculo movido a álcool conhece bem o cheiro irritante que aparece assim que é dada a partida no motor. Esse cheiro é provocado por um aldeído formado pela combustão do Etanol. A reação química que descreve a combustão dentro do motor é a seguinte:
CH3-CH2OH + ½ O2 ----------------- CH3-CHO (Etanal) + H2O
Para se ter uma ideia dos efeitos do Etanal no organismo, basta se lembrar de uma bela ressaca que você tenha tido em algum momento da vida. As pessoas acreditam que a ressaca é causada pelo álcool o que não é verdade. Ao ingerir bebida alcoólica o álcool é metabolizado pelo organismo e se converte em Etanal (CH3-CHO) e é esta substancia a responsável pelos efeitos da ressaca – dor de cabeça, enjoo, vômitos, fraqueza e sede. Como o álcool inibe a ação do hormônio antidiurético (ADH) ele provoca desidratação através da perda de líquidos na forma de urina. Isso só acentua os efeitos do etanal no organismo.
Deixando de lado a matemática e a química os problemas urbanos não se resumem a poluição do ar, mas também a poluição ocasionada pelo acumulo de lixo. Esse aumento per capto de lixo urbano se deve ao consumismo desenfreado do mundo moderno. O ato de substituir passou a ser um comportamento peculiar das sociedades do mundo globalizado. Esse comportamento irracional vêm sendo explorado de forma ofensiva pelo comercio. Basicamente o mercado têm sido impulsionado pela oferta de uma nova forma de tecnologia ao final de cada semestre. Centenas de Softwares e Hardwares lançados no mercado tem limitado o tempo de uso dos computadores a um período maximo de dois anos; os celulares são ainda mais “descartáveis”, sendo substituídos em media a cada seis meses.
No século XIX economistas já haviam conseguido associar os ciclos econômicos a marcha da inovação tecnológica. Isso de deve a baixa resiliência do consumidor diante das ofertas de um mercado movido pela troca. O papel dos bancos nesse lamentável quadro urbano é quase determinante uma vez que o consumismo exagerado é alavancado pelas inúmeras formas de credito que as instituições colocam a disposição do consumidor.
ENCHENTES: MAR DE PARASITAS
A impermeabilização do solo por meio do asfaltamento impede que a água da chuva seja absorvida pelo solo. O acumulo de lixo na rede de esgotos favorece a enchentes e alagamentos, que mesmo temporários, causam danos a saúde. A água acumulada na superfície possui contaminantes que emergem dos esgotos - como as fezes humanas. Essa água pode conter larvas (cercarias) de um parasita chamado
“Schistosoma”, que penetra através da pele e se aloja nas veias do fígado causando uma parasitose chamada
Esquistossomose.
Em alguns casos esse parasita causa acumulo de plasma nos tecidos do abdome, causando inchaço, daí o fato da doença ser conhecida popularmente como
“barriga d’agua”. Acreditasse que essa parasitose tenha sido trazida para a America por meio de escravos africanos, embora a doença tenha surgido pela primeira vez no continente asiático. Vermes do parasita foram encontrados em múmias chinesas com mais de dois mil anos de idade.
VIOLÊNCIA E POBREZA
Há séculos a pobreza tem sido considerada o aspecto mais negativo do espaço urbano e sendo utilizada como indicador de outra patologia social: a violência. Seria correto atribuir o aumento de uma postura agressiva, algo diretamente ligada a natureza humana, como conseqüência do aumento de determinada condição social?
A expansão dos índices de violência esta mais relacionada a aspectos demográficos do que econômicos. O crescimento desordenado dos grandes aglomerados urbanos dificulta um planejamento urbano adequado resultando num aproveitamento desigual do espaço geográfico. Essa ampliação dos limites urbanos tem elevado as dificuldades enfrentadas pela população de todas as classes: distancias maiores tem separado os trabalhadores de seus locais de atuação, o custo dos transportes tem sofrido alterações periódicas, o transito tem se tornado cada vez mais caótico – uma evidencia das condições defasadas de escoamento do fluxo humano das metrópoles.
Em escala diametralmente oposta o tempo para o lazer e para as relações interpessoais tem reduzido. Tudo isso contribui para o aumento da violência, de forma infinitamente superior aos aspectos econômicos porque age diretamente no terreno mais instável da natureza humana: o seu emocional.
Os altos índices de violência nas regiões de morros e favelas é um exemplo claro de que a violência urbana esta diretamente relacionada a ocupação desigual do espaço geográfico, pois a característica mais marcante das periferias não é sua situação econômica, mas o seu sistema de ocupação irregular de terrenos vazios.
AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO
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