quarta-feira, 1 de maio de 2013

A PROBLEMÁTICA DA BIOTECNOLOGIA NO CAMPO



A biotecnologia é de fato a mais promissora ciência de nossa época. Imaginem poder curar uma doença genética antes mesmo que esta apresente seus sintomas. Utilizando enzimas especificas é possível transportar genes responsáveis por determinadas características para outro organismo vivo. Isso é possível porque todos os seres vivos possuem uma estrutura de DNA. Desnecessário dizer que o beneficio dos transgênicos são imensos; citando apenas um tímido exemplo: a criação de vegetais resistentes a pragas por meio da transdução de genes específicos eliminaria a necessidade de produtos químicos nocivos a saúde. No entanto a biotecnologia esbarra em questões éticas e econômicas cuja solução seria bem mais complicada do que parece.
As vantagens da biotecnologia no campo se apresentam com a mesma lógica sedutora que o processo de mecanização da agricultura que se consolidou durante o século XX: prometia maior rendimento da produção e redução dos custos. A mecanização surgiu para atender ao mercado capitalista urbano, cujo crescimento exigia um incremento proporcional dos alimentos, uma vez que a população crescia em escala geométrica e a produção de alimentos em escala aritimetica – teoria está defendida por Thomas Maltus em sua obra “Ensaio sobre as Populações”.

A relação cidade-campo perdeu equilíbrio na medida em que a produção agrícola se viu completamente subordinada às necessidades urbanas. Apesar da produção agrícola ser indispensável para a manutenção da economia a mesma teve sua importância hierárquica reduzida a um nível muito inferior a mercadoria industrial. Desde o século XVIII que a relação cidade-campo oscila no sentido favorável ao núcleo urbano. O baixo valor agregado a mercadoria rural levou a miséria a funcionar como potente fator de repulsão populacional. Em 1800 apenas 3% da humanidade habitavam as cidades, no século XX esse número já havia subido para 14%. Desde o seu inicio o berço tecnológico se concentrou nas cidades fazendo com que esta deixasse a condição de mero mercado consumidor agrícola para exportador de tecnologia de produção. Isso permitiu que as cidades consolidassem sua liderança e assumisse a dianteira na escala de hierarquia econômica. Daí em diante a população camponesa teve de aprimorar seus métodos para atender as necessidades urbanas. A mecanização das colheitas e o uso de pesticidas no controle de pragas subordinaram o campo à indústria química e as instituições de credito urbanas, encarecendo ainda mais a produção. É justamente neste ponto que se encaixa a problemática econômica da aplicação da biotecnologia no campo.
As mercadorias agrícolas são infinitamente menos valorizadas que os produtos industriais e os riscos associados à produção campesina também são muito superiores, pois está submetida aos caprichos do tempo e do clima local. Basta uma mudança climática para arrasar plantações inteiras. Como o lucro obtido é muito baixo, em função do baixo valor agregado, a solução para uma safra ruim são os empréstimos e as hipotecas. A biotecnologia é um processo caro que estreitaria ainda mais os lucros e aumentando a pratica da adoção de hipotecas. Em curto prazo o número acumulado de hipotecas resultaria numa centralização pouco benéfica para a população. Seria questão de tempo para que as grandes plantações se concentrassem nas mãos de banqueiros e industriais. O resultado não poderia ser mais desastroso: o preço dos alimentos aumentaria na proporção exata da queda de vendas dos produtos industriais, numa espécie de “ferramenta balança” cujo objetivo seria impedir que as empresas fechassem o orçamento no vermelho.
Dado o grau de desenvolvimento da sociedade humana (que inegavelmente já atingiu o limite da sustentabilidade) os desafios praticamente não podem ser solucionados sem que outro surja de modo igualmente danoso. É o traço singular da natureza que insistentemente direciona o fluxo das atividades no caminho do equilíbrio dinâmico. A mentalidade torpe do homem, escrava do hedonismo moderno, está focada no presente, mas a natureza, essa sim sabe bem equilibrar a balança.
AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO

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